A reportagem especial do
jornalista Honório Barbosa e que ganhou uma página toda no caderno
Regional [imagem] apresentou mais uma vez um problema que foi se
acumulando com o tempo e nunca enfrentado de forma sistemática pelas
gestões municipais.
Icó.
No Ceará, 52 cidades têm o sistema de trânsito municipalizado, mas o
serviço só funciona efetivamente em cerca de dez delas. Na maioria dos
centros urbanos do Interior, não há fiscalização e o uso de motos e de
carros é livre por adolescentes e condutores não habilitados. Os
gestores municipais temem o desgaste político se houver real
fiscalização, aplicação de multas e apreensão de veículos.
Em Icó, as infrações são constantes, principalmente entre os motociclistas [Fotos: Honório Barbosa]
A
estimativa de que somente há serviço de trânsito municipalizado com
efetividade em dez Municípios no Ceará foi apresentada pelo coronel
Túlio Studart, comandante da Polícia Rodoviária do Estado [PRE], na
abertura do Fórum de Trânsito, realizado em Fortaleza.
Um exemplo em que o trânsito é municipalizado,
mas
não há fiscalização, é nesta cidade, localizada na região Centro-Sul.
Em Icó, a liberação é geral. Condutores e passageiros não usam capacetes
e transportam crianças de colo com a maior naturalidade.
O risco
de acidente é evidente e assusta os visitantes que chegam a este centro
urbano. Na cidade, quase nenhum condutor de veículo respeita a
sinalização. Na prática, os semáforos instalados só servem de decoração.
O
diretor do Centro de Operação de Trânsito [Cotran], Francisco Barbosa,
anunciou que, a partir de novembro próximo, haverá fiscalização e multa
para quem desrespeitar as normas de trânsito. "Vamos fazer 15 dias de
campanha educativa e, depois, vamos impor uma rigorosa fiscalização,
pois o brasileiro só obedece a legislação quando sente o peso no bolso".
No
ano passado, o Cotran anunciou, após um período de campanha educativa, o
início da fiscalização e aplicação de multa. "Lavramos cerca de 500
multas, mas perdemos porque ainda não tínhamos convênio com os Correios e
os bancos para a entrega e pagamento das infrações", explicou. "Estamos
resolvendo esse problema burocrático e legal. Esperamos que, a partir
de novembro, nós iremos atuar pra valer", disse.
Barbosa
mostra-se preocupado com o número de acidentes e o desrespeito às normas
de trânsito. "Para inibir, é preciso colocar ordem e multar, após um
período de campanha educativa", disse. "Todos os dias ocorrem acidentes
na região com vítimas fatais ou com feridos graves, com traumas".
Na
regional de Saúde de Iguatu, o acidente de trânsito é a segunda causa
de óbito, perdendo apenas para as doenças do aparelho circulatório [AVC e
ataques cardíacos]. Os números são crescentes nos últimos três anos. Em
Iguatu, por exemplo, em 2010, foram registrados 32 óbitos, e 35 em
2011. De janeiro a julho deste ano, já são 20 mortes. Cerca de um terço
envolve motocicletas.
O Departamento Municipal de Trânsito
[Demutran] em Iguatu não dispõe de estatística atualizada sobre o número
de motos e de carros registrados no Detran, em Iguatu. Só mototaxistas
são mais de 500 veículos cadastrados. O número de motos cresce a cada
mês em face da facilidade de financiamento e preço reduzido do veículo. O
médico Sandro Oliveira, que atende no setor de traumatologia do
Hospital Regional de Iguatu, disse que já perdeu a conta dos casos de
acidentes envolvendo motocicletas. "Nos fins de semana é demais, mas os
casos ocorrem praticamente todos os dias".
Além de Fortaleza, o
serviço municipalizado de trânsito tem fiscalização nas cidades de
Iguatu, Juazeiro do Norte, Crato, Sobral, Maracanaú, Caucaia,
Maranguape, Várzea Alegre, Canindé e Santa Quitéria.
Estatísticas de acidentes preocupam autoridades
Icó. O
número de acidentes de trânsito em cidades do Interior segue a curva
ascendente no Estado e no Brasil. Em 2011, no Ceará, foram registradas
2091 mortes, sendo que 36% estão relacionadas com motos, condutores ou
passageiros. As estatísticas preocupam as autoridades. Todos os dias,
centenas de pessoas sofrem sequelas graves, traumatismos, decorrentes de
sinistros com motocicletas.
No
Centro-Sul, a motocicleta transporta famílias inteiras. Em caso de
acidentes, o número de vítimas é maior. O Detran registra aumento das
infrações
Os casos que não resultam em óbito, mas deixam traumas,
também preocupam e são crescentes. No Estado do Ceará, em 2011, foram
registrados, nas estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito
[Detran], 5.605 acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.
O
excesso de velocidade, o desrespeito à legislação, a ingestão de bebida
alcoólica e a falta de uso de capacete são as principais causas de
morte por acidente com veículos automotores. A maioria das vítimas é
jovem entre 15 e 30 anos. O custo diário de um paciente internado em um
hospital é estimado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) em R$
1.500,00.
Segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade
da Sesa, o acidente com trânsito é a terceira causa de morte no Estado,
atrás apenas das doenças do aparelho circulatório e neoplasias [câncer].
"Precisamos inverter essa curva, pois a violência no trânsito é uma
verdadeira epidemia", disse o secretário de Saúde, Arruda Bastos, por
ocasião da abertura do Fórum de Trânsito, na última segunda-feira, dia
11, em Fortaleza.
Segundo o Ministério da Saúde, os brasileiros
estão morrendo mais em acidentes com transporte terrestre,
principalmente, quando o veiculo é motocicleta. Dados de 2010, do
Sistema de Informações de Mortalidade [SIM], mostram que 40.610 pessoas
foram vítimas fatais, sendo que 25% delas em acidentes com motocicletas.
Em nove anos, de 2002 a 2010, o número total de óbitos em acidentes com
motos quase triplicou no País, crescendo de 3.744 para 10.143.
No
Ceará, entre 2002 e 2010, o aumento de óbitos em acidentes de trânsito
foi de 30,9%. Pulou de 1.501 mortes em 2002 para 1.965 em 2010 e em
2011, 2.091. "São dados preocupantes. Precisamos inverter essa curva
pois, mesmo com aumento no número de hospitais e de Unidades de Pronto
Atendimento [UPA], as emergências vão permanecer superlotadas", observou
Arruda Bastos.
O número de motos que circulam nas ruas das
cidades e nas estradas no Interior aumenta a cada dia em decorrência da
facilidade de financiamento para compra desses veículos novos e usados. O
vai-e-vem das motocicletas é constante mesmo nos pequenos centros
urbanos.
Nos Municípios da região Centro-Sul, é comum cena de uma
família, pai, esposa e filhos menores, trafegando de moto nas ruas das
cidades ou mesmo em rodovias estaduais e vicinais, sem capacete. Em caso
de acidentes, o número de vítimas é maior.
O Detran realiza as
fiscalizações com regularidade nos Municípios do Interior, nas rodovias
estaduais e nos próprios centros urbanos. As estatísticas do órgão
mostram que, de janeiro a maio deste ano, foram realizadas 3.379 blitze,
com registro de 51.712 infrações. No ano passado, foram criadas 3.726
barreiras de fiscalização e aplicadas 39.131 multas.
Mais informações:
Centro de Operação de Trânsito de Icó [Cotran] - [088] 3561-1225
Secretaria de Saúde do Estado - Fortaleza [Sesa] - [085] 3101-5196 Atuação - 52
cidades têm o sistema de trânsito municipalizado, mas o serviço só
funciona efetivamente em cerca de dez cidades, com órgãos específicos
para o setor
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER