DESCRIÇÃO GERAL
A barragem do
Açude Lima Campos, projetada e construída pelo DNOCS, está localizada no município de
lcó, estado do Ceará, a cerca de 400 km de Fortaleza . Barra o rio São João,
pertencente ao sistema do rio Jaguaribe, cuja bacia hidrográfica mede 340 km2
considerando a interligação com a bacia do Açude Orós.
O projeto do Açude
Lima Campos tem como finalidade o aproveitamento das várzeas do lcó, situadas no vale do
rio Salgado.
Pouco antes da
confluência deste último com o Jaguaribe, o vale se alarga em
várzeas extensas, largas,
planas, compreendendo todo o curso inferior dos riachos Mucururé, São João à margem
esquerda, e Bezerros, Capim Pubo e Bebedouro à margem direita, os quais são os seus
afluentes mais importantes.
Essas terras
se prestam de maneira notável ao estabelecimento de um sistema de irrigação, pela sua
qualidade, conformação e situação.
As várzeas do lcó
satisfazem a todas as condições para a implantação da irrigação: terras excelentes e
topografia propícia tanto à distribuição quanto à drenagem.
A irregularidade
das chuvas dentro de um mesmo inverno e a dos próprios invernos não
permitem nunca o
aproveitamento econômico, sistemático e completo desses grandes e feracíssimo
tratos
de terra, cuja produção excessiva nos bons invernos dá a ilusão de uma riqueza
permanente, mas se anula por completo nos maus invernos ou nas secas.
A irrigação bem
escolhida e bem dirigida torna a região como que independente da variação de
precipitações de chuva, com a possibilidade de completar as deficiências nos períodos
de escassez (seja mês, seja ano) com a água armazenada nas épocas
de excesso. Essa
compensação consegue-se principalmente pela açudagem.
As encostas que por
completo circunscrevem as planícies do rio Salgado favorecem o traçado dos grandes
canais em cota suficientemente alta para o seu aproveitamento completo e integral. Da
mesma maneira, as leves ondulações que têm por origem estas mesmas encostas, e por
término as margens dos riachos que serpeiam pelas várzeas, permitem
uma disposição
simples e econômica dos canais secundários e distribuidores. Por outro lado, esses
mesmos riachos realizarão uma magnífica drenagem desde que sejam convenientemente
regularizados, o que aliás melhorará sensivelmente o regime de inundações
das
várzeas, pela facilidade de escoamento das enchentes.
Localizadas na
parte baixa do curso do rio Salgado, as várzeas do Icó fazem, por isso mesmo, parte
integrante do sistema de irrigação de Orós, ou do Jaguaribe, cujas águas lhes poderão
ser levadas de duas maneiras:
a) por um grande canal que partindo de um ponto escolhido a jusante da barragem do Açude Orós, sobre o rio Jaguaribe, acompanhe este rio durante uma certa extensão e depois penetre no vale do Salgado, por jusante, mas em cota suficientemente alta para o aproveitamento integral das várzeas. Seu comprimento seria de 15 quilômetros até iniciar a distribuição e teria de ser construído em terreno acidentado, exigindo provavelmente trechos em túnel;b) por um túnel de comunicação do Açude Orós com o vale do riacho São João, iniciando-se a distribuição em um ponto convenientemente escolhido no curso deste último.
A melhor locação
para a boca de jusante deste túnel seria sobre o riacho Saco da Onça, afluente da margem
esquerda do riacho São João. Dispondo este último de uma bacia hidrográfica ou de
captação de 340 km2 e de um ótimo boqueirão (o Estreito) a jusante da
confluência do riacho.
Fig. 2 - Arranjo geral
Fig. 3 - Seção transversal
Saco da Onça, foi
imposta a construção de uma barragem ao invés de uma simples obra de derivação das
águas levadas do Orós, o que tornou possível a formação de uma represa com cerca de
60 milhões de m3, permitindo o início imediato da irrigação das várzeas a
jusante do barramento.
O projeto do
sistema aceitou, portanto, a solução progressiva para sua construção com o
estabelecimento imediato dessa irrigação parcial, mediante a construção do Açude Lima
Campos, convindo, entretanto, que os canais tenham as dimensões definitivas, apesar de
extensão limitada da zona a irrigar.
Com a construção
do túnel Orós-Lima Campos e mediante uma adequada manobra das comportas, tornou-se
possível o aproveitamento de grande parcela das terras planas, próprias para culturas de
vazantes, existentes na bacia hidráulica do Açude Lima Campos.
Fig. 4a - Vertedouro - seção longitudinal
Fig. 4b - Vertedouro seção transversal típica
A barragem do
"Lima Campos" tornou-se, portanto, uma obra de;grande importância para o
projeto de irrigação das várzeas do lcó (Projeto lcó-Lima Campos), devido a sua
localização privilegiada e o baixo custo de sua execução, fazendo com que a cidade de
Icó se transformasse no principal pólo de desenvolvimento do Vale do Salgado.
ARRANJO GERAL
O arranjo geral é
visto em planta na figura 2. A barragem é um maciço de terra com uma cortina vertical de
concreto armado . A montante o material é de natureza argilosa e a jusante foi empregado
material aproveitado do desmonte do vertedouro. A drenagem interna é feita por um dreno
no pé da cortina e manilhas no sentido transversal. O talude de montante é protegido por
placas de concreto e tem a inclinação de 1V:2H. A drenagem externa é garantida por uma
rede de canaletas sobre o talude de jusante, que é inclinado de 1V:2H.
As ombreiras e a
fundação são formadas por rochas cristalinas do Pré-cambriano. O material empregado no
maciço é uma areia argilosa, na zona de montante, e para jusante foi empregado material
resultante do desmonte do vertedouro.
O vertedouro é do
tipo soleira espessa, escavado em rocha. As laterais são protegidas por um muro guia . O
regime das chuvas foi obtido através dos dados das estações pluviométricas,
localizadas na bacia hidrográfica do açude, abrangendo o período de 1912 a 1931.
Para definição
dos escoamentos foram utilizados dados limnimétricos, medições de descarga e as
fórmulas do Engº Francisco Aguiar.
A tomada d'água é
constituída por uma galeria de concreto armado de seção retangular. A montante eleva-se
uma estrutura de concreto armado na qual estão instalados os equipamentos de manobra. A
vazão é controlada por três comportas retangulares de 0,80 m x 1,10 m.
Fig. 5 Tomada d´água
Fig. 6 - Derivação entre as bacias
Fig. 6b - Túnel de derivação
O túnel Orós-Lima
Campos (Figs. 6a e 6b), destinado a estabelecer comunicação entre as bacias hidráulicas
do grande reservatório de Orós e do Açude Lima Campos, permitiu que o primeiro supra o
segundo da quantidade de água necessária para irrigação integral das férteis várzeas
de Icó - cerca de 10.000 hectares brutos, nas margens do rio Salgado, afluente do
Jaguaribe.
A solução por
túnel impôs-se, naturalmente, como decorrência das condições topográficas locais - e
substitui, com grandes vantagens econômicas, a construção de um canal que, a partir
de
Orós, desceria o vale do Jaguaribe até as proximidades da confluência com o Salgado,
para subir, em seguida, o vale deste último até o completo domínio das várzeas de
Icó.
A interligação é feita através dos seguintes elementos:a) túnel propriamente dito, câmara de manobra, aparelhagem de tomada d'água, torre e passadiço de acesso;b) canais de acesso e descarga.
O túnel, com 1.584
m de extensão e 60 cm/km de declividade, tem por seção um retângulo de 2,7 m de base
por 2,25 m de altura, completado por segmento circular de 2,48 m de raio e 0,4 m de
flecha, proporcionando, com 1,75 m de tirante, uma descarga de 7,83 m3/s,
a uma velocidade de 1,57 m/s. O volume da rocha para perfuração do túnel foi
de 14.500m3.
A câmara de manobra, localizada a
60 m da boca de montante, é escavada em rocha. É um cilindro reto, de base circular, com
7 m de diâmetro e 2,25 m de altura até a nascença da abóbada em arco pleno que
constitui o teto.
No interior da
câmara está instalada a aparelhagem de tomada d'água. A seqüência de construção do
túnel está indicada na figura 7.
A tomada consta de
três condutos: um central, de 40" de diâmetro e dois laterais de 32". Ao
primeiro estão adaptadas uma válvula borboleta, para manobras de emergência a
montante, e uma válvula Larner Johnson de 40" x 28" para regulação da
descarga, a jusante. A cada um dos condutos laterais estão adaptados uma válvula
borboleta a montante e um registro de descarga a jusante, ambos de 32". Todos os
condutos são dotados de tampões de visita, e de entrada em boca de sino, para diminuir
as perdas de carga.
O acesso à
câmara é garantido por um poço circular, de 3 m de diâmetro, em cujo prolongamento foi
construída uma torre de concreto armado, para suporte da cabine onde foram instalados os
aparelhos de comando da tomada d'água.
Fig. 7 - Túnel de derivação - esquema construtivo
O canal de
acesso possui 1.384 m de extensão, 20 cm/km de declividade, tendo 5 m de largura na base.
Sua seção é retangular, nos trechos em rocha, trapezoidal (talude de l V:1 H) em
piçarra e retângulo-trapezoidal quando ocorrem os dois materiais.
Para o canal de descarga, com 1.100 m de extensão e
declividade de 30 cm/km, foi projetada uma largura na base de 7 m.
Para a abertura dos dois canais foi necessária a
escavação de 91.000 ml - sendo 26.000 em rocha e 65.000 em solo
CONSTRUÇÃO
No projeto do
Açude Lima Campos deve-se destacar a técnica de compactação usada. Na época, o uso de
equipamento de terraplenagem ainda marcava os primeiros passos no DNOCS. Para a
construção desta obra foi empregado o sistema de compactação manual, aproveitando
assim a mão-de-obra disponível criada pela seca que se abateu sobre o Nordeste, no ano
de 1932.
O início de sua
construção data de abril de 1932 e a conclusão deu-se em dezembro do mesmo ano. No
período de 9 meses foi feito um volume de 83.800 m3 de maciço, que
corresponde a cerca de 33m3/dia, volume este bastante elevado para ser
executado manualmente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Francisco Gonçalves de. Estudo hidrométrico do
Nordeste brasileiro (Excertos). B. Técnico. Fortaleza,
DNOCS, 36 (2): 129 - 204, jul./dez. 1978.
DNOCS. 2. DR. Arquivo Técnico. Processos do Açude Lima
Campos. S.n.t.
MACEDO, Maria Vilalba Alves de. Características físicas e técnicas
dos açudes públicos do Estado de CearáFortaleza, DNOCS, 1977.132 p.TÚNEL Orós - Lima Campos. B. da IFOCS, Fortaleza, 9 (2):
226 - 9, abr./jun. 1938.. Açude Lima Campos; memória descritiva (conclusão). B. da IFOCS, Fortaleza, l (2): 49 - 68, fev. 1934.
VIEIRA, Luiz. Açude Lima Campos; memória descritiva. B. da IFOCS, Fortaleza, l (l): 6 - 14, jan. 1934.
CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS
|
|||
CAPACIDADE | 66.382.000m³ | RAIO MÉDIO | 0,762 |
LOCALIZAÇÃO | Icó-Ce | DECLIVIDADE | 60cm/km |
SISTEMA | Jaguaribe | DESCARGA | 7,83m³/s |
RIO | São João | VELOCIDADE | 1,57m/s |
BACIA HIDROGRÁFICA | 340Km² | VOLUME ESCAVADO EM ROCHA | 14.500m³ |
BACIA HIDRÁULICA | 1.515ha | ||
CHUVA MÉDIA ANUAL | 800mm |
TOMADA D´ÁGUA
|
|
COEFICIENTE DE RUN-OFF | 8% | CÂMARA DE MANOBRA | |
VOLUME AFLUENTE ANUAL | 40.000.000m³ | DIÂMETRO DO POÇO DE ACESSO | 3m |
BARRAGEM
|
DIÂMETRO INTERNO DA TORRE | 3m | |
TIPO |
Terra
zoneada
|
VÃO DO PASSADIÇO | 15m |
ALTURA MÁXIMA | 19m | CONDUTOS LATERAIS | 2 |
LARGURA MÁXIMA NA BASE | 89m | DIÂMETRO | 32" |
EXTENSÃO PELO COROAMENTO | 185m | ACESSÓRIOS |
Válvula
borboleta, Registro e tampão de visita
|
LARGURA DO COROAMENTO | 7,50m | CONDUTO CENTRAL | 1 |
VOLUME DO MACIÇO | 83,800m³ | DIÂMETRO | 40" |
VERTEDOURO | ACESSÓRIOS | Válvula borboleta, Registro e tampão de visita | |
TIPO | Lâmina Livre | ||
LARGURA | 50m | CANAL DE ACESSO | |
REVANCHE | 2,50m | EXTENSÃO | 1.384m |
LÂMINA MÁXIMA PREVISTA | 1,80m | DECLIVIDADE | 20cm/km |
VOLUME DO CORTE | 26.800m³ | VOLUME ESCAVADO | 47.940m³ |
GALERIA | |||
SEÇÃO | 1,80 x 1,80m | CANAL DE DESCARGA | |
COMPRIMENTO | 60m | EXTENSÃO | 1.160m |
DESCARGA | 7m³/s | SEÇÃO MOLHADA | 11,90m² |
TÚNEL ORÓS-LIMA CAMPOS | PERÍMETRO MOLHADO | 10,30m | |
EXTENSÃO | 1.584m | RAIO MÉDIO | 0,116m |
SEÇÃO MOLHADA | 4,72m² | DESCARGA | 7,49m³/s |
PERÍMETRO MOLHADO | 6,20m | VELOCIDADE | 0,63m³ |
VOLUME ESCAVADO |
42.630m³
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário