Santa Paula a mais ilustre das damas romanas que São Jerônimo instruiu nas santas letras. Era filha de Rogato e de
  Blesila. O pai, grego de origem, fazia subir a sua genealogia até  Agamenon; a mãe descendia dos Cipiões, dos Gracos e dos Paulos-Emilios.  Paula desposou Toxótio, da família Júlia e, por conseguinte, descendente  de Iula e Enéias. Teve quatro filhas e um filho. 
(2) Acta SS. 26 de jan.
A mais velha das filhas, Blesila, como a  avó, esteve casada apenas sete meses, como Santa Marcela, e ficou viúva  aos vinte anos de idade. São Jerônimo explicou o livro do Eclesiástico,  para instigá-la ao desprezo do mundo. Rogou-lhe ela que lhe deixasse um  pequeno comentário, a fim de poder compreender sem a sua presença;  quando São Jerônimo se preparava para essa obra, morreu a jovem de uma  febre que em pouco tempo a levou. Santa Paula, sua mãe, afligiu-se  excessivamente, e São Jerônimo lhe escreveu uma carta de consolação, na  qual assinala que Blesila falava tão bem o grego como o latim, e que  aprendera em poucos dias o hebraico, trazendo sempre entre as mãos a  Sagrada Escritura.
A segunda filha de Santa Paula foi  Paulina, que desposou Pamáquio, primo de Santa Marcela, da família  Furia, e que, entre os antepassados, contava vários cônsules. Era velho  amigo de São Jerônimo, que havia estudado com ele e, mais tarde, lhe  dedicou vários trabalhos. Paulina morreu antes, e ele, vendo-se viúvo,  sem filhos, entregou-se inteiramente ao serviço de Deus e das boas  obras, abraçou a vida monástica e empregou os bens em socorrer os  pobres, particularmente os estrangeiros, num abrigo estabelecido em  Porto, nas proximidades de Roma.
A terceira filha de Santa Paula foi  Júlia Eustóquio, que jamais a abandonou, mantendo-se virgem; a quarta  foi Rufina, que desposou Alétio, da ordem dos ilustres. O filho de Santa  Paula recebeu o nome do pai, Toxótio. Desposou Leta, filha de Albino,  pagão e pontífice dos ídolos, mas que se converteu na velhice,  persuadido pela filha e pelo genro. Do casamento de Toxótio e de Leta  nasceu a jovem Paula, sobre a qual escreveu Jerônimo a Leta, já viúva,  um ensinamento acerca da maneira de a educar cristã. Eis aí a família de  Santa Paula.
A santa viúva deixou Roma pelo ano de  385, e embarcou para o Oriente, sem dar ouvidos à ternura materna, que  devia impedir-lhe deixar a filha Rufina, já casadoura, e o filho  Toxótio, ainda menino. Conduziu em sua companhia a filha Eustóquio, com  pouquíssimos servidores, e, a princípio, deteve-se na ilha Pontia, nas  costas da Itália, para visitar as celas em que Santa Domitila passara o  exílio sob o imperador Domiciano, trezentos anos antes.
Em seguida, foi a Chipre, onde se lançou  aos pés de Santa Epifânia, que a reteve dez dias para fazê-la  descansar. Mas ela empregou o tempo em visitar os mosteiros do país, e  ali distribuiu esmolas aos solitários que o amor do santo bispo atraíra  de todos os lados do mundo. De lá transferiu-se para Antioquia, onde se  viu detida um pouco pelo bispo Paulino.
Partiu em pleno inverno, montada num  burrico, em vez de ser transportada pelos eunucos, como estava  acostumada. Atravessou a Síria e chegou a Sidon; nas cercanias, em  Sarepta, entrou na pequena torre de Elias. Em Cesaréia, viu a casa do  centurião Cornélio transformada em igreja; a casa de São Filipe e os  quartos das quatro virgens profetisas, suas filhas.
O governador da Palestina, que conhecia a  família de Santa Paula, mandou na frente oficiais para que lhe  preparassem o palácio em Jerusalém; mas ela deu preferência a uma pobre  cela. Visitou os santos lugares com tal devoção que só deixava os  primeiros pela pressa de ver os outros. Prostrada diante da cruz,  adorava o Senhor, como se o estivesse vendo pregado. Entrando no  sepulcro, beijava a pedra que o anjo tirara para abri-lo, e, mais ainda,  o lugar na qual havia repousado o corpo de Jesus Cristo.
No monte de Sião, mostraram-lhe a coluna  a que ele fora seguro durante a flagelação, ainda tinta de sangue, e  sustendo então a galeria de uma igreja. Mostraram-lhe o lugar em que o  Espírito Santo descera sobre os apóstolos no dia de Pentecostes.
Após distribuir esmolas em Jerusalém,  tomou o caminho de Belém, e viu, de passagem, o sepulcro de Raquel.  Entrando na gruta da Natividade, julgou ver o Menino Jesus adorado pelos  reis Magos e pastores. Visitou a torre de Ader ou do Rebanho e os  demais lugares célebres da Palestina.
Viu, entre outras, em Betfagé, o  sepulcro de Lázaro e a casa de Marta e Maria. No monte de Efraim,  reverenciou os sepulcros de Josué e do pontífice Eleazar. Em Sichar,  entrou na igreja construída sobre o poço de Jacó, onde o Salvador falou à  Samaritana. Viu, depois, os sepulcros dos doze patriarcas, e em Sebasta  ou Samaria, os de Eliseu e Abdias, e 
sobretudo  o de São João Batista, onde a aterrorizavam os efeitos do demônio nos  possessos. Viu em Morasti uma igreja onde estivera, outrora, o sepulcro  do profeta Miquéias.
É São Jerônimo que descreve a  peregrinação de Santa Paula, e assim nos transmite os vestígios da  sagrada antiguidade que, na sua época, se mostravam na Palestina (1)
Santa Paula, acompanhada da filha  Eustóquio e de outras virgens, rumou em seguida para o Egito. Chegou a  Alexandria, depois ao deserto de Nítria, onde o bispo Isidoro,  confessor, se lhe apresentou com inúmeros grupos de monges, dentre os  quais vários eram sacerdotes e diáconos. Visitou os mais famosos  solitários, entrou-lhes nas celas prostrou-lhes aos pés, e de muito boa  vontade houvera permanecido naquele deserto, com as filhas, se a não a  traísse o amor aos santos lugares.
Voltou imediatamente à Palestina, e  estabeleceu-se em Belém, onde ficou três anos num pequeno alojamento,  até que mandasse construir algumas celas, mosteiros e casas de  hospitalidade perto do caminho, para receberem os peregrinos. Foi lá que  passou o resto dos dias, sob a guia de São Jerônimo que no mesmo lugar  terminou a vida, dedicado ao estudo das Sagradas Escrituras e à  hospitalidade para com os estrangeiros (2).
Santa Paula morreu em 26 de Janeiro de 404.
(1) Hieron., Epist. 27.(2) Acta SS. 26 de jan.
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