ICÓ - CEARÁ - BRASIL - IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO - 1770
Icó como grande parte das cidades coloniais, dedica uma de suas igrejas à Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, cuja solenidade litúrgica e popular era a festa de 7 de outubro, com a subida da bandeira, novenário, quermeces, leilões e festas profanas nos dias que precediam a essa data, foi construída por volta de 1770, pelos escravos, nos subúrbios da cidade, e passou por uma grande reforma em 1828, recentemente passou por uma restauração, sob responsabilidade do Ipham com recursos do programa Monumenta/Bird.
Caminhando pela Rua do Meio (hoje General Piragibe), onde moravam os pobres, serviçais e escravos, aos poucos avistamos a fachada do "Rosáro". Certamente a fachada mais bela e harmoniosa das igrejas do Icó, voltada para o coração da cidade, no mesmo costume colonial, onde todas as igrejas voltam-se para a sua Igreja Matriz, onde está o Santíssimo Sacramento, in casu, a Igreja da Expectação.
Era por ali que os negros cativos peregrimavem em busca de sua "Mãe do Rosário" e por lá, certamente, evocavam os seus orixás, os seus eguns e praticavam seus candomblés em suas lovações a Xangô: "Káwo-kabiesile! "
Quanto grito de dor por ali não ecoou, quanta desesperança por aqueles caminhos de chão de terra quente os pés não pisaram...
Era por ali que os negros cativos peregrimavem em busca de sua "Mãe do Rosário" e por lá, certamente, evocavam os seus orixás, os seus eguns e praticavam seus candomblés em suas lovações a Xangô: "Káwo-kabiesile! "
Quanto grito de dor por ali não ecoou, quanta desesperança por aqueles caminhos de chão de terra quente os pés não pisaram...
A devoção à Nossa Senhora do Rosário vem de Portugal desde os séculos XV e XVI quando os negros já se congregavam nas irmandades de Nossa Senhora do Rosário, nas terras lusitanas.
Inicialmente, conta a tradição, a devoção à Nossa Senhora do Rosário era realizada somente pelos brancos e se tornou popular com a famosa batalha de Lepanto em 1571, sobre os mouros foi, atribuída à intercessão direta da Virgem Maria.
Inicialmente, conta a tradição, a devoção à Nossa Senhora do Rosário era realizada somente pelos brancos e se tornou popular com a famosa batalha de Lepanto em 1571, sobre os mouros foi, atribuída à intercessão direta da Virgem Maria.
Preferencial, mas não exclusiva dos negros, a Igreja do Rosário do Icó permaneceu em pé, todavia suas manifestações culturais desapareceram ao longo dos séculos. Muitos brancos casaram-se e batizaram-se nela.
Em 1496, o rei de Portugal, Dom Miguel, já se referia à "Confraria dos Pretos", fato que nos faz acreditar que os negros, em terras lusitanas, aceitaram o catolicismo como forma de tentar manter, através do sincretismo religioso, as suas devoções.
Em 1496, o rei de Portugal, Dom Miguel, já se referia à "Confraria dos Pretos", fato que nos faz acreditar que os negros, em terras lusitanas, aceitaram o catolicismo como forma de tentar manter, através do sincretismo religioso, as suas devoções.
Com a criação dessas irmandades religiosas, que eram compostas basicamente por cativos, os soberanos negros passaram a ser eleitos nessas agremiações. As confrarias religiosas dos homens brancos tinham a missão de administrar os sacramentos, prestar assistência social, etc., enquanto as dos negros e mulatos tinham uma tarefa muito maior: a manutenção de sua identidade cultural.
Nessa igreja reuniam-se as confrarias de negros. Era forma de auto afirmação e minutos de liberdade numa sociedade escravocrata e perversa. O essencial dessas confrarias ou irmandades era a sua íntima conexão com as cerimônias de coroação dos reis negros e momentos de encontrarem-se com os seus pares, coma comunhão que somente a religião católica, naquele momento histórico poderia propiciar. Esses cerimoniais, de acordo com a tradição africana, iniciaram-se com a figura de Chico Rei, ou Ganga Zumba Galanga, rei Congo dos Quicuios, que foi trazido como escravo para o Brasil, juntamente com sua corte, no princípio do século XVIII.
Quando me entendi de gente, no final dos anos 60 e início dos 70, ao derredor da Igreja pastavam vacas e bodes, com seu pequeno cemitério secular abandonado, cheio de ossos ressequidos. Os únicos freqüentadores dessa igreja eram os fiés morcegos. Lembro-me claramente de Eutímia Moreira (Timinha), cantando com sua forte voz a ladaínha de Nossa Senhora do Rosário, em latim e a procissão que saia às quatro e meia da tarde, em pleno sol-quente, agoniada, pelas ruas da cidade, e alguns dias depois , "a subida" da imagem, tudo com o explodir das "bombas", que só o Icó sabe fazer daquela forma, como dizia minha amiga Zilma Almeida: "No Icó, até pra rezar é na base da bala".
A Igreja do Rosário, por décadas permaneceu abandonada, no ermo, esquecida, com aquele cheiro de coisa antiga, guardada... - que as restaurações acabam com elas - havendo raras celebrações litúrgicas e missas somente no encerramento da festa em Outubro, com a clássica impaciência de Padre Macedo e a praticidade de Padre Zé Augusto, num calorzão de matar.
Nessa igreja reuniam-se as confrarias de negros. Era forma de auto afirmação e minutos de liberdade numa sociedade escravocrata e perversa. O essencial dessas confrarias ou irmandades era a sua íntima conexão com as cerimônias de coroação dos reis negros e momentos de encontrarem-se com os seus pares, coma comunhão que somente a religião católica, naquele momento histórico poderia propiciar. Esses cerimoniais, de acordo com a tradição africana, iniciaram-se com a figura de Chico Rei, ou Ganga Zumba Galanga, rei Congo dos Quicuios, que foi trazido como escravo para o Brasil, juntamente com sua corte, no princípio do século XVIII.
Quando me entendi de gente, no final dos anos 60 e início dos 70, ao derredor da Igreja pastavam vacas e bodes, com seu pequeno cemitério secular abandonado, cheio de ossos ressequidos. Os únicos freqüentadores dessa igreja eram os fiés morcegos. Lembro-me claramente de Eutímia Moreira (Timinha), cantando com sua forte voz a ladaínha de Nossa Senhora do Rosário, em latim e a procissão que saia às quatro e meia da tarde, em pleno sol-quente, agoniada, pelas ruas da cidade, e alguns dias depois , "a subida" da imagem, tudo com o explodir das "bombas", que só o Icó sabe fazer daquela forma, como dizia minha amiga Zilma Almeida: "No Icó, até pra rezar é na base da bala".
A Igreja do Rosário, por décadas permaneceu abandonada, no ermo, esquecida, com aquele cheiro de coisa antiga, guardada... - que as restaurações acabam com elas - havendo raras celebrações litúrgicas e missas somente no encerramento da festa em Outubro, com a clássica impaciência de Padre Macedo e a praticidade de Padre Zé Augusto, num calorzão de matar.
Em 25 de março de 2008 a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi elevada à condição de Matriz, desligando-se da secular N.S. da Expectação, a Santa dos Brancos, mas os atabaques dos negros, sua memória e sua cultura ficaram perdidos no tempo!
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