ICÓ - CEARÁ - BRASIL - IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO - 1770


Era por ali que os negros cativos peregrimavem em busca de sua "Mãe do Rosário" e por lá, certamente, evocavam os seus orixás, os seus eguns e praticavam seus candomblés em suas lovações a Xangô: "Káwo-kabiesile! "
Quanto grito de dor por ali não ecoou, quanta desesperança por aqueles caminhos de chão de terra quente os pés não pisaram...

Inicialmente, conta a tradição, a devoção à Nossa Senhora do Rosário era realizada somente pelos brancos e se tornou popular com a famosa batalha de Lepanto em 1571, sobre os mouros foi, atribuída à intercessão direta da Virgem Maria.
Preferencial, mas não exclusiva dos negros, a Igreja do Rosário do Icó permaneceu em pé, todavia suas manifestações culturais desapareceram ao longo dos séculos. Muitos brancos casaram-se e batizaram-se nela.
Em 1496, o rei de Portugal, Dom Miguel, já se referia à "Confraria dos Pretos", fato que nos faz acreditar que os negros, em terras lusitanas, aceitaram o catolicismo como forma de tentar manter, através do sincretismo religioso, as suas devoções.
Com a criação dessas irmandades religiosas, que eram compostas basicamente por cativos, os soberanos negros passaram a ser eleitos nessas agremiações. As confrarias religiosas dos homens brancos tinham a missão de administrar os sacramentos, prestar assistência social, etc., enquanto as dos negros e mulatos tinham uma tarefa muito maior: a manutenção de sua identidade cultural.
Nessa igreja reuniam-se as confrarias de negros. Era forma de auto afirmação e minutos de liberdade numa sociedade escravocrata e perversa. O essencial dessas confrarias ou irmandades era a sua íntima conexão com as cerimônias de coroação dos reis negros e momentos de encontrarem-se com os seus pares, coma comunhão que somente a religião católica, naquele momento histórico poderia propiciar. Esses cerimoniais, de acordo com a tradição africana, iniciaram-se com a figura de Chico Rei, ou Ganga Zumba Galanga, rei Congo dos Quicuios, que foi trazido como escravo para o Brasil, juntamente com sua corte, no princípio do século XVIII.
Quando me entendi de gente, no final dos anos 60 e início dos 70, ao derredor da Igreja pastavam vacas e bodes, com seu pequeno cemitério secular abandonado, cheio de ossos ressequidos. Os únicos freqüentadores dessa igreja eram os fiés morcegos. Lembro-me claramente de Eutímia Moreira (Timinha), cantando com sua forte voz a ladaínha de Nossa Senhora do Rosário, em latim e a procissão que saia às quatro e meia da tarde, em pleno sol-quente, agoniada, pelas ruas da cidade, e alguns dias depois , "a subida" da imagem, tudo com o explodir das "bombas", que só o Icó sabe fazer daquela forma, como dizia minha amiga Zilma Almeida: "No Icó, até pra rezar é na base da bala".
A Igreja do Rosário, por décadas permaneceu abandonada, no ermo, esquecida, com aquele cheiro de coisa antiga, guardada... - que as restaurações acabam com elas - havendo raras celebrações litúrgicas e missas somente no encerramento da festa em Outubro, com a clássica impaciência de Padre Macedo e a praticidade de Padre Zé Augusto, num calorzão de matar.
Em 1496, o rei de Portugal, Dom Miguel, já se referia à "Confraria dos Pretos", fato que nos faz acreditar que os negros, em terras lusitanas, aceitaram o catolicismo como forma de tentar manter, através do sincretismo religioso, as suas devoções.

Nessa igreja reuniam-se as confrarias de negros. Era forma de auto afirmação e minutos de liberdade numa sociedade escravocrata e perversa. O essencial dessas confrarias ou irmandades era a sua íntima conexão com as cerimônias de coroação dos reis negros e momentos de encontrarem-se com os seus pares, coma comunhão que somente a religião católica, naquele momento histórico poderia propiciar. Esses cerimoniais, de acordo com a tradição africana, iniciaram-se com a figura de Chico Rei, ou Ganga Zumba Galanga, rei Congo dos Quicuios, que foi trazido como escravo para o Brasil, juntamente com sua corte, no princípio do século XVIII.
Quando me entendi de gente, no final dos anos 60 e início dos 70, ao derredor da Igreja pastavam vacas e bodes, com seu pequeno cemitério secular abandonado, cheio de ossos ressequidos. Os únicos freqüentadores dessa igreja eram os fiés morcegos. Lembro-me claramente de Eutímia Moreira (Timinha), cantando com sua forte voz a ladaínha de Nossa Senhora do Rosário, em latim e a procissão que saia às quatro e meia da tarde, em pleno sol-quente, agoniada, pelas ruas da cidade, e alguns dias depois , "a subida" da imagem, tudo com o explodir das "bombas", que só o Icó sabe fazer daquela forma, como dizia minha amiga Zilma Almeida: "No Icó, até pra rezar é na base da bala".
A Igreja do Rosário, por décadas permaneceu abandonada, no ermo, esquecida, com aquele cheiro de coisa antiga, guardada... - que as restaurações acabam com elas - havendo raras celebrações litúrgicas e missas somente no encerramento da festa em Outubro, com a clássica impaciência de Padre Macedo e a praticidade de Padre Zé Augusto, num calorzão de matar.
Em 25 de março de 2008 a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi elevada à condição de Matriz, desligando-se da secular N.S. da Expectação, a Santa dos Brancos, mas os atabaques dos negros, sua memória e sua cultura ficaram perdidos no tempo!
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