Folha Online
O papa Bento 16 pediu nesta quarta-feira que o governo de Cuba não  impeça a manifestação de liberdades individuais na ilha, ao mesmo tempo  em que condenou o embargo financeiro feito pelos Estados Unidos. As  declarações foram feitas em um discurso de despedida, no aeroporto de  Havana. 
 "Precisamos pavimentar uma sociedade de amplos horizontes, renovada e  reconciliada. Que ninguém seja impedido de se somar a essa tarefa  apaixonante pela limitação de suas liberdades fundamentais, nem eximido  dela por indolência ou carência de recursos naturais". 
 O discurso contou com a presença do ditador cubano, Raúl Castro, que se  despedia do pontífice. Bento 16 também condenou o embargo econômico dos  Estados Unidos a Cuba, que chamou de "medidas econômicas restritivas,  impostas fora do país, um fardo injusto para este povo", pedindo  reconciliação entre os países. 
 "A hora presente pede de forma urgente que na convivência humana,  nacional e internacional, se desenterrem posições imóveis e pontos de  vista unilaterais que tendem a ser mais árduo o entendimento e ineficaz o  esforço de colaboração". 
 O pontífice ainda fez referência à educação para a liberdade, criticando  o dirigismo e a falta de iniciativa pessoal dos regimes comunistas. 
 "O respeito e o cultivo da liberdade que bate no coração de todos os  homens é imprescindível para responder adequadamente às exigências  fundamentais de sua dignidade e construir assim uma sociedade em que  cada um se sinta protagonista indispensável do futuro da sua vida, sua  família e sua pátria". 
 No fim do discurso, fez um chamado a fé para solucionar os problemas da  ilha. "Cuba, reaviva na fé dos seus maiores, tira dela a força para  edificar um futuro melhor". 
 FIDEL 
 O ex-ditador cubano, Fidel Castro, teve uma "conversa animada" nesta  quarta-feira em Havana com o papa Bento 16, a quem fez algumas  perguntas, entre elas sobre o sentido das mudanças litúrgicas nas  missas, relatou o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi. 
 "Soube pelo próprio papa como se desenvolveu o encontro. Segundo Bento  16, foi uma conversa bem animada, com muitas trocas de argumentos",  disse o padre Lombardi aos jornalistas, sobre o encontro de 30 minutos  entre os dois líderes, na sede da Nunciatura Apostólica. 
| Reuters | ||
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| Ex-ditador cubano, Fidel Castro, se reúne com papa Bento 16 | 
 "O diálogo foi intenso e cordial. Fidel queria conhecer o pensamento do  papa sobre diversos temas", disse Lombardi, destacando que o ex-ditador,  que foi aluno de padres jesuítas, leva "uma existência dedicada à  reflexão sobre a cultura e o mundo de hoje". 
 "Ele (Castro) perguntou ao papa, em primeiro lugar, sobre as mudanças  litúrgicas na celebração da missa, ouvindo de Bento 16 as explicações  sobre o sentido dessa renovação", segundo o padre Lombardi. 
 "Depois, Fidel Castro quis saber sobre o trabalho apostólico de um papa, sua missão e tarefa. 
 "Ao final, indagou sobre as dificuldades vividas pela Igreja nos tempos  de hoje". O papa mencionou a complexidade das religiões em responder aos  "desafios" da modernidade. 
 MISSA 
 Durante a missa de quarta, Bento 16 declarou que "Cuba e o mundo  precisam de mudanças", mas que estas só acontecerão "se cada um estiver  em condições de se perguntar pela verdade e se decidir pelo caminho do  amor, semeando reconciliação e fraternidade". 
 A afirmação do pontífice foi feita na homilia da missa que celebra na  praça da Revolução de Havana, local dos grandes eventos relacionados à  revolução comunista cubana, último ato de sua visita de três dias a  Cuba. 
| Rickey Rogers/Reuters | ||
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| Papa Bento 16 celebrar multidão durante missa da praça da Revolução, em Havana | 
 Segundo ele, para que a Igreja exerça seu trabalho plenamente há de  contar "com a essencial liberdade religiosa, que consiste em poder  proclamar e celebrar a fé publicamente, levando a mensagem de amor,  reconciliação e paz que Jesus trouxe ao mundo". 
 Bento 16 exigiu o direito à liberdade religiosa e disse que quando a  Igreja destaca esse direito "não está reivindicando privilégio algum,  pretende apenas ser fiel ao ensinamento de Cristo, sabedora que, onde  Cristo está presente, o homem cresce em humanidade e encontra sua  consistência". 
 "É preciso reconhecer com alegria que em Cuba foram dado passos para que  a Igreja realize sua missão inescapável de expressar pública e  abertamente sua fé. No entanto, é preciso seguir adiante e desejo  encorajar às instâncias governamentais da nação a reforçar o que já foi  conquistado e a avançar por este caminho de genuíno serviço ao bem comum  de toda a sociedade cubana", declarou. 


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